O Inter Miami bateu o Tigres UANL por 2 a 1 no Chase Stadium, em Fort Lauderdale, e carimbou a vaga na semifinal da Leagues Cup. O placar saiu das cobranças seguras de Luis Suárez, que transformou dois pênaltis em alívio para a torcida numa noite sem o capitão. A ausência de Lionel Messi foi o assunto do jogo, mas o time mostrou estofo para competir sem ele.
Messi ficou fora por causa de uma lesão muscular que vem sendo tratada com cuidado. Ele já tinha sido limitado a 11 minutos contra o Necaxa, no começo de agosto, e voltou a atuar por 45 minutos contra o LA Galaxy, com gol e assistência. Só que não treinou na véspera do duelo com o Tigres e acabou cortado da lista. Decisão do técnico Javier Mascherano: nada de atalho, nada de risco desnecessário.
“Precisamos ser cautelosos com a saúde do Leo”, disse Mascherano, mantendo o tom de quem olha o campeonato como uma maratona, não um tiro curto. Traduzindo: jogo intenso, adversário físico, ambiente pesado. Colocar Messi ali, sem estar 100%, poderia empurrar a recuperação alguns passos para trás — e essa conta costuma sair cara quando a temporada aperta.
Sem o camisa 10, o roteiro exigia disciplina. O Inter Miami saiu na frente quando o árbitro marcou pênalti por toque de mão de Javier Aquino. Suárez converteu e deu o tom de uma partida que seria decidida nos detalhes. Só que a equipe levou um susto ainda no primeiro tempo: Jordi Alba levou a pior numa trombada com Telasco Segovia, tentou ficar em campo, mas não voltou do intervalo. É mais um nome na lista de preocupações do departamento médico.
A noite ficou mais tensa antes mesmo da bola rolar no segundo tempo. Mascherano levou cartão vermelho e teve que deixar a área técnica. Pelas regras do torneio, ele pôde assistir ao jogo nas cadeiras acima do banco — e aí surgiu outra polêmica. Câmeras de TV flagraram o treinador ao telefone com o auxiliar Lucas Rodriguez Pagano, numa comunicação que pode contrariar o regulamento da Leagues Cup. Se houver relatório da arbitragem, a organização deve analisar e pode aplicar sanção.
O Tigres empatou aos 67 minutos, com Ángel Correa — velho conhecido de Messi na seleção argentina — atacando o espaço com velocidade e finalizando bem. Parecia que o jogo viraria batalha de nervos. Só que, de novo, o Inter Miami encontrou um pênalti após novo toque de mão de Aquino. Suárez repetiu a dose, bola de um lado, goleiro do outro, e manteve o time vivo na competição.
No gol, Óscar Ustari resumiu o espírito da noite: “Trabalhamos como equipe. Eles gostam da bola, estão acostumados a jogar com ela, então a gente teve que correr e, em algum momento, baixar as linhas.” Foi isso. Organização sem a bola, paciência para sofrer um pouco, e eficiência quando a chance apareceu.
Vamos ao ponto: qual é a real de Messi? O clube trata como lesão muscular e monitora dia a dia. Depois da tentativa controlada contra o LA Galaxy — 45 minutos com impacto direto no placar — a equipe médica preferiu segurar. O treino perdido na véspera foi o sinal de que forçar agora poderia virar recaída. Em jogador de alta demanda, esse tipo de problema geralmente cobra respeito ao tempo biológico, mesmo quando a vontade do atleta é acelerar.
Como funciona esse manejo? Primeiro, controle de carga em campo e na academia; depois, resposta do corpo no dia seguinte; por fim, imagem se necessário. Quando a sequência de treinos não encaixa, o risco de “puxar” o músculo outra vez sobe. E ninguém quer ver Messi parado por semanas quando o time está a dois jogos de um título e, de quebra, disputando vaga na Concacaf Champions Cup.
Há otimismo para a semifinal? Sim, mas com asterisco. O Inter Miami trabalha com o cenário de ter Messi se a evolução clínica continuar. Isso significa: ele precisa treinar com o grupo, terminar bem, e acordar no dia seguinte sem dor ou incômodo. Se algum desses passos falhar, a comissão vai segurar de novo. O discurso interno é simples: final de torneio não é hora de heroísmo fora de hora.
Enquanto isso, a equipe se ajusta. A chegada de Rodrigo De Paul deu outra cara ao meio-campo. Ele oferece ritmo, alterna chegada ao ataque com cobertura, e facilita a saída sob pressão. Com Messi fora, essa leitura de jogo virou ouro. O time conseguiu alongar a posse quando precisou esfriar o Tigres e também ligar rápido quando apareciam espaços pelas pontas.
A vitória também reforça o tamanho de Luis Suárez nessa campanha. Não é só pelos dois pênaltis convertidos; é pelo jeito como ele comanda a área, arrasta marcador e abre corredor para quem vem de trás. Em jogos tensos, experiência pesa — e ele soube usar.
E Jordi Alba? A imagem do lateral pedindo atendimento preocupa. O clube vai reavaliar a perna do jogador nesta janela entre quartas e semifinal. Se ele virar desfalque, a comissão precisa mexer na linha de quatro e, possivelmente, no desenho de saída de bola pelo lado esquerdo. Alba dá profundidade e cruza bem; sem ele, a construção pode ficar mais por dentro, com De Paul e os zagueiros assumindo mais a saída.
O episódio da expulsão de Mascherano não termina no apito final. A Leagues Cup prevê restrições claras a comunicação técnica a partir das arquibancadas. As imagens dele ao telefone com Lucas Rodriguez Pagano podem entrar no relatório. Se a disciplina do torneio entender que houve orientação direta, o treinador pode pegar suspensão para a semifinal. Isso mudaria o dia a dia de banco, ajustes ao vivo e até a gestão emocional do grupo. Por ora, o clube aguarda o parecer oficial.
Do outro lado, o adversário é o Toluca, um time da Liga MX que costuma acelerar a transição e incomodar com pressão coordenada na primeira bola. É um perfil diferente do Tigres, menos paciente na posse e mais incisivo ao recuperar a bola. O Inter Miami precisará cuidar da saída curta, evitar perdas no corredor central e, ao mesmo tempo, explorar as costas da linha defensiva mexicana, que tende a subir o bloco para comprimir o campo.
Com Messi em dúvida, a estratégia tende a repetir alguns princípios que funcionaram: linhas compactas sem a bola, meio-campo com pernas para cobrir lado a lado e, lá na frente, um referência para segurar o primeiro passe e ganhar faltas. Se o 10 estiver disponível, o plano muda: mais entrelinhas, mais atração de marcação para liberar o lado fraco e mais gente pisando na área em segunda bola.
Detalhe que pesa no calendário: recuperação. A semifinal chega rápido, e qualquer janela de treino vira quase sessão de regenerativo e vídeo. Isso aproxima ainda mais a decisão sobre Messi do famoso “game-time decision” — teste no dia do jogo e chamada final com base na resposta do corpo.
O que ficou claro contra o Tigres é que o Inter Miami não depende só do brilho do seu craque. Ao segurar a onda com desfalques, lidar com a expulsão do treinador e ainda assim rodar o jogo com cabeça fria, o time mostrou que tem grupo. Ustari foi seguro, a defesa se ajustou quando precisou baixar bloco, o meio venceu duelos e Suárez matou as chances. Esse é o tipo de noite que cola no vestiário e ajuda quando a pressão sobe.
Para a torcida, a pergunta permanece: Messi joga a semifinal? O clube trabalha para isso, mas sem romper o limite do bom senso. Levar o camisa 10 ao campo sem ter certeza é abrir espaço para um problema maior. E, pela maneira como Mascherano falou e agiu, a prioridade é clara: reabilitar, testar, só então liberar.
Até lá, o Inter Miami tem trabalho concreto a fazer: checar Alba, preparar alternativas na lateral, treinar movimentos com e sem Messi, revisar bolas paradas — que podem decidir um mata-mata — e estudar os pontos fracos do Toluca. Em jogo grande, os centímetros contam. Na terça à noite, foram duas mãos de Aquino e dois pênaltis de Suárez. Na semifinal, pode ser uma disputa aérea, um desvio, uma leitura de segunda bola. O time já entendeu a lição.
O recado que fica da classificação é direto: com ou sem Messi, o Inter Miami está vivo e competitivo na Leagues Cup. Se o 10 voltar, o teto sobe. Se não, a equipe já provou que consegue sofrer, competir e ganhar. E, em mata-mata, isso vale tanto quanto ter o melhor do mundo em campo.