Os Acre pagaram R$ 1.647.822.732,45 em tributos nos três primeiros meses de 2025, um salto de 8,24% em relação ao mesmo período de 2024. O dado vem da plataforma Impostômetro, desenvolvida pela Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Essa subida coloca a arrecadação estadual em evidência num cenário nacional onde a Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registra crescimento moderado do PIB. Mas por que esse número importa para quem mora na capital Rio Branco ou nas cidades do interior? Vamos entender.
No primeiro trimestre de 2025, a arrecadação tributária do estado correspondeu a 0,16% do total nacional, que chegou a R$ 1,012 trilhão. Em números absolutos, isso equivale a mais de 2 bilhões de cestas básicas, segundo levantamento da própria ACSP. Trata‑se de um repasse que, embora pequeno em proporção, tem peso significativo para o orçamento estadual, sobretudo porque a base de contribuintes – pessoas físicas, empresas e MEIs – é limitada.
O crescimento de 8,2% no primeiro trimestre de 2025 reflete não só o efeito da inflação sobre a base tributária, mas também uma maior eficiência na cobrança municipal e estadual. Segundo dados da ACSP, o número de contribuintes formais subiu 3,1% em 2024, impulsionado por políticas de regularização de microempresas.
Em entrevista concedida ao AC24Horas, Camila Martins, secretária de Fazenda do Acre, explicou que "o aumento vem da combinação de revisão de alíquotas, combate à sonegação e estímulo ao comércio formal". Ela destacou ainda que o governo estadual pretende reinvestir parte dos recursos em infraestrutura de transporte na região Norte, um ponto crítico para a logística de produtos agrícolas.
Do lado dos economistas, o professor Rogério Almeida, da Universidade Federal do Acre, alertou que "o ritmo de crescimento da arrecadação precisa ser acompanhado de perto para evitar pressões inflacionárias sobre os cidadãos". Almeida ressaltou que, embora a arrecadação esteja acima da média nacional, o PIB per capita do estado ainda é inferior ao de muitas unidades da federação.
O IBGE divulgou que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1,4% no primeiro trimestre de 2025, alcançando R$ 3 trilhões. Esse aumento, embora modesto, indica recuperação após a recessão de 2023. No Acre, o crescimento de 8,2% da arrecadação representa, proporcionalmente, um impulso mais forte ao orçamento estadual que pode suportar investimentos em saúde e educação, áreas que ainda registram déficits.
Entretanto, a participação de apenas 0,16% no total nacional evidencia a vulnerabilidade do estado frente a choques externos, como variações nos preços das commodities e políticas fiscais federais. A maioria dos tributos recolhidos vem de ICMS e IPTU, com a contribuição do IRPF ficando relativamente baixa devido à estrutura de renda da população.
Para 2025, a ACSP projeta que a arrecadação total do Acre ultrapasse R$ 5,5 bilhões até dezembro, caso a tendência de crescimento se mantenha. O governo estadual está avaliando a criação de um programa de incentivo fiscal para startups de tecnologia, visando diversificar a base arrecadatória e reduzir a dependência de setores tradicionais como agricultura e mineração.
Além disso, a secretaria de Fazenda planeja lançar, ainda em julho, uma versão aprimorada do Impostômetro com filtros por atividade econômica, o que poderá auxiliar pequenas empresas na compreensão de suas obrigações fiscais.
O incremento pode refletir em maiores gastos públicos em saúde, educação e infraestrutura, mas também pode resultar em ajustes nas alíquotas de alguns tributos. Até o momento, o governo estadual garante que não haverá aumento de carga tributária direta para pessoa física.
A maior parte vem do ICMS (imposto sobre circulação de mercadorias e serviços) e do IPTU (imposto predial e territorial urbano). O IRPF (imposto de renda pessoa física) tem participação menor devido ao perfil de renda da população.
Os tributos incidem sobre bens e serviços que compõem o PIB. O crescimento de 1,4% do PIB nacional no primeiro trimestre de 2025 gera, em parte, um aumento da base tributária, refletido nos números do Impostômetro.
Segundo a secretária de Fazenda, Camila Martins, parte dos recursos será destinada a obras de infraestrutura logística, como melhorias nas rodovias que ligam Rio Branco a cidades do interior, além de investimentos em programas de regularização de empreendedores.
A ACSP planeja lançar um novo módulo que permitirá filtrar a arrecadação por setor econômico e por tamanho de empresa, facilitando a análise para micro e pequenas empresas que desejam entender melhor suas obrigações fiscais.
caroline pedro
outubro 9, 2025 AT 02:18O crescimento da arrecadação no Acre nos convida a refletir sobre a relação entre o tributo e o bem‑estar coletivo.
Quando o Estado consegue captar mais recursos, abre‑se a possibilidade de investir em serviços que transcendem o mero cálculo contábil.
Contudo, é imprescindível que essa captação seja acompanhada por uma gestão transparente, capaz de transformar números em melhorias palpáveis para a população.
De acordo com o Impostômetro, o salto de 8,2 % representa não apenas uma elevação inflacionária, mas também a eficácia de políticas de formalização que remetem à dignidade do trabalhador.
Nesse sentido, cada microempresa regularizada deixa de ser um ente marginalizado para integrar o tecido econômico formal, ampliando a base tributária de forma sustentável.
A participação da ACSP ao desenvolver ferramentas de monitoramento reforça a necessidade de dados claros, pormenorizados, que sirvam de bússola para os gestores públicos.
Ainda que a parcela do Acre no total nacional pareça ínfima, o impacto relativo sobre o orçamento estadual pode ser decisivo para a execução de projetos de infraestrutura.
Investimentos em rodovias, por exemplo, reduzem custos logísticos, facilitam o escoamento da produção agropecuária e, por conseguinte, potencializam a geração de renda.
Não podemos, porém, esquecer que o aumento da arrecadação não deve se traduzir automaticamente em maior carga tributária sobre os cidadãos.
A promessa da secretaria de Fazenda de não elevar impostos diretos ao indivíduo deve ser acompanhada por um controle rigoroso dos gastos públicos.
Uma fiscalização eficiente, aliada a mecanismos de combate à sonegação, garante que o dinheiro arrecadado retorne ao contribuinte em forma de serviços de qualidade.
A educação e a saúde, setores historicamente deficitários, são áreas que podem absorver recursos adicionais e gerar efeitos multiplicadores na sociedade.
Ao analisar a evolução histórica desde 2022, observamos uma tendência de crescimento consistente que, se mantida, poderia permitir ao Estado assumir compromissos mais ambiciosos.
Contudo, é fundamental equilibrar esse entusiasmo com prudência, evitando que a pressão inflacionária se intensifique devido a despesas descontroladas.
Em suma, a arrecadação é um instrumento poderoso que, bem orientado, pode ser a base de um desenvolvimento mais justo e inclusivo para todos os acreanos.